grayboy

4 de janeiro de 2024

O dia que conheci o amor

Um dia eu o conheci, leve, viscoso
Sua textura sedosa lembrou-me pêssego 
Em pele e gosto, caldoso, atalcado
Era víscido sim, mas gostoso, deliciosamente molhado

Então eu o apresentei a você.
De soslaio, você faceou asco a ele
Rejeitou-o, relegou-o, não o quis conhecer.
Pobre do amor, recolheu-se, ultrajado, para dentro de mim.

Eu o abracei forte em nossa mútua solidão.
Disse, incisivo, a ele que não chorasse, que nao sofresse, pois era belo, puro, nobre, embora eu também chovesse.
Revelei-lhe que dele o meu melhor vinha
Que era ele o elixir da tinta que pintava mais linda minha vida.

Ele deu-me um sorriso tímido
Um sorriso que doía, um sorriso que sofria, 
Mas que, ainda assim, brilhava em sua melancolia. 
Ele - o amor - abraçou-me forte
Desta vez, seu abraço feria em mim
Uma dor oblíqua de solidão.
Eu o apertei mais forte para que 
Ele se sentisse completo comigo
Ele, silencioso, lançando-me seus olhos chuvosos,
Guardava em si uma forte emoção 
Da qual eu não tinha conhecimento

Mas hoje eu sei: ele doía em si, pois sabia que 
Haveria de partir com o tempo
Deixando-me aqui no triste insulamento 
De um dia tê-lo conhecido.

- Fhelipe Viegas

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