grayboy

11 de julho de 2020

Amor colérico

Não te surpreendas, se, por acaso, eu vier a matar-te,
Não te precipites a pensar que de amor não padeci,
Pois deste-me um amor ardente em cólera
Mesmo sendo tu o prana do meu amor em frenesi.

Viveste na boêmia dos bares da Aurora,
Procuraste luxúria até onde pudeste resistir,
Testando o quão magnânimo é o meu amor,
Disseram-me, até, que outro te puseste a sentir.

Tencionando atenuar a acidez do nosso estupor,
Quais outras desculpas, a mim, hão de vir?
Para encobertar, outra vez, teu nada intrépido amor,
Quais mentiras, engenhosamente, te porás a urdir?
Quais?


- Fhelipe Viegas

1 de julho de 2020

Um amor em quarentena


A Medina acorda com primeiro chamado
Ao longe, meus oníricos olhos a veem brilhar
Curvam-se, em todo o globo, à grande pedra
Até a grama escala o deserto para ouvi-la cantar

Unem-se as aves num canto uníssono e vibrante

A libélula dos montes respira o ar do novo dia
Não lhe foge a pasmaceira do etílico homem errante
Nem mesmo os silfos escapam da beleza que irradia

A vida nasce outra vez com o dormir da noite

A luz solar tateia o que, por hora, não posso
Todo esse meu amor que eu o também amoite
Todo esse meu estupor que eu tire do que é nosso

Cresce, lá fora, a vida esperando que eu esteja pronto

Ingênua, a pensar que disso não sobrará sequela
Só o prana não se encerra com o fim de um ponto
Pois tudo isso contarei que, triste, vi de uma janela.

O nosso amor, há muito, em quarentena. 


- Fhelipe Viegas