grayboy

13 de março de 2017

DO AMOR

Quando o amor vos chamar, segui-o,
Embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados;
E quando ele vos envolver com suas asas, cedei-lhe,
Embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir-vos;


E quando ele vos falar, acreditai nele,
Embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos
Como o vento devasta o jardim.
Pois, da mesma forma que o amor vos coroa,
Assim ele vos crucifica.


E da mesma forma que contribui para vosso crescimento,
Trabalha para vossa poda.
E da mesma forma que alcança vossa altura
E acaricia vossos ramos mais tenros que se embalam ao sol,
Assim também desce até vossas raízes
E as sacode no seu apego à terra.


Como feixes de trigo, ele vos aperta junto ao seu coração.
Ele vos debulha para expor vossa nudez.
Ele vos peneira para libertar-vos das palhas.
Ele vos mói até a extrema brancura.
Ele vos amassa até que vos torneis maleáveis.
Então, ele vos leva ao fogo sagrado e vos transforma

No pão místico do banquete divino.

Todas essas coisas, o amor operará em vós
Para que conheçais os segredos de vossos corações
E, com esse conhecimento,
Vos convertais no pão místico do banquete divino.
Todavia, se no vosso temor,
Procurardes somente a paz do amor e o gozo do amor,
Então seria melhor para vós que cobrísseis vossa nudez
E abandonásseis a eira do amor,
Para entrar num mundo sem estações,
Onde rireis, mas não todos os vossos risos,
E chorareis, mas não todas as vossas lágrimas.


O amor nada dá senão de si próprio
E nada recebe senão de si próprio.
O amor não possui, nem se deixa possuir.
Pois o amor basta-se a si mesmo.
Quando um de vós ama, que não diga:
"Deus está no meu coração",
Mas que diga antes:
"Eu estou no coração de Deus".

E não imagineis que possais dirigir o curso do amor,
Pois o amor, se vos achar dignos,
Determinará ele próprio o vosso curso.
O amor não tem outro desejo
Senão o de atingir a sua plenitude.


Se, contudo, amardes e precisardes ter desejos,
Sejam estes os vossos desejos:
De vos diluirdes no amor e serdes como um riacho
Que canta sua melodia para a noite;
De conhecerdes a dor de sentir ternura demasiada;
De ficardes feridos por vossa própria compreensão do amor
E de sangrardes de boa vontade e com alegria;
De acordardes na aurora com o coração alado
E agradecerdes por um novo dia de amor;
De descansardes ao meio-dia
E meditardes sobre o êxtase do amor;
De voltardes para casa à noite com gratidão;
E de adormecerdes com uma prece no coração para o bem-amado,
E nos lábios uma canção de bem-aventurança.


- Khalil Gibran 

1 de março de 2017

Ângulos Lânguidos

Tarde chuvosa, brisa cinza,
insana razão agora envolta em mim....
Pular sobre a grama molhada só para não mais se molhar.
Em vão. Mas o que pode não ser na vida?
O amor? Esse aveludado que me cobre?

Faz uns dias que me interrogo
contestando minha relativa sanidade,
percebo, em peripécia, que a perdi.
Por quê? Você!

Não tente entender, se perca comigo!
Nessas linhas, nesses ângulos lânguidos,
Nessa vida vã que corre sobre mim.

Farejo um aroma peculiar,
esse que vem de dentro,
ele que explode em amarela luz
e fecunda no ar em invisível existência.
Pluraliza em mim sorrisos bobos,
Borboletas azuis em minhas entranhas,
Tremulações e suor nas mãos,
Tento verbalizar estas coisas de dentro.
Em vão. Insano sentimento a exteriorizar.

Não tente entender.
Venha, e se perca comigo!
Nessas linhas tortas de nossa história
que mesmo assim, por ângulos lânguidos,
fecunda o amor.

- Fhelipe Viegas

Mais-Valia


Vagarosamente, rendo-me às lembranças,
perpetuando a nostalgia do teu olhar.
A paz que habitava sobre mim
esvaiu-se como fumaça branca à tua partida.
Em quais lábios hoje habitas?
Em qual órbita fecundas hoje o teu amor?
Todo o universo, antes revelado a mim,
pode ter sido transmutado em antimatéria?
Me crucificam por um dia ter desejado teu éden,
por ter dado em reciprocidade o meu.
Mas algum dia quiseste ser o meu?
Apenas pensamentos vagos.
Hoje minhas mãos perfumam o odor de cigarros,
os quais acompanham minhas padecidas lágrimas.
Convertendo-me a cada dia a um ébrio amante,
pairando perdidamente num mundo de prazeres.
Sob noites frias, permuto-me em diversas personalidades,
sendo o que desejam de mim.
Hoje, me perco em braços mórbidos
a fim de encontrar o calor dos teus.
Hoje me perco em olhares frios,
a fim de encontrar o abraço dos teus...
Então, paro. Rendo-me. Percebo.
Mais-valia, o que me restou desse nosso amor.

- Fhelipe Viegas

Meu primeiro devaneio

Deitado sob minha velha árvore
olhando os detalhes acessíveis do céu.
Admirando e contemplando os feitos divinos de Deus
...São tantas as perguntas sem respostas...
Pensamentos vagos vêm e vão,
assim como o vento quente veranico em meu rosto.
Um devaneio chega lentamente:
você estava comigo em corpo e alma.
Eu sentia seu cheiro e nossos lábios
brincavam como crianças inocentes.
Eu admirava cada detalhe do seu rosto
E adorava o seu sorriso

que remetia paz em minha alma.
O Recife se tornou perto e
se distanciou com o fim do devaneio.
Era a chuva que começava,

gota após gota, minhas lágrimas caiam.

- Fhelipe Viegas